Friday, December 31, 2004

Ocean Course

«Joga tranquilo, Seu José» dizia o Reinan a quem começava o percurso. «Hoje vai ter sorte». «Vai jogar bem». Mais filosófico, o responsável do campo acalmava a irritação dos jogadores com a enigmática afirmação de que o sucesso vem com a acumulação de erros. Tranquilo... As melhores sombras da região estão por debaixo das palmeiras no meio deste fairway. A areia é toda branca e ao fim do tarde a linha do litoral perde-se de vista com o espumar das ondas. E todo o mundo tem «bolinha», a dois reais. «Seu José, olha aqui meu presente de ano novo pra você - pra botar no Audi...» No Audi?

Wednesday, December 29, 2004

O Samba nasceu na Baía

A Dadá dá cabo da gente. Responsável por um marco da restauração do Pelourinho, encarregou-se de me levar de braço dado pelo bufett enchendo-me o prato com as sugestões dela mesma. Não faltava nada, tudo em nomes a condizer. Impossível relatar. Sobretudo pela morrinha trazida da picanha repetida debaixo das palmeiras na praia e das caipirinhas tomadas ainda antes de sair da areia. Não fosse isso e a noite teria ficado para a história. Acabou por ser original, com direito a dormir com a Simone a cantar ao lado de viva voz. Venceu o sono do dia começado de madrugada ainda noite escura em São Paulo.

Thursday, December 23, 2004

«O Augueiro»

Morreu o Cindo. Deu-lhe uma dor forte mas em vez de ir ao médico, foi para a feira. Lembro-me vagamente dele ainda do tempo da feira do gado em que juntamente com o pai vendiam as vacas mais famosas da região. Hoje a feira do gado é pequena e o mercado antes do Natal tem pouca expressão. Mas sobrou o Hostal dos boeieiros, em frente às Águas de Sousas, tal como era no tempo do gado que pelo meio do Larouco era levado para Padornelos para trabalho e criação. Hoje, já menos de metade dos comensais come com a boina galega na cabeça e alguns nem sequer comem a carne de vitela ou o polvo à feira. Eu comi o polvo com batatas, em tudo igual ao polvo das tábuas, mas servido em cima de batatas cozidas com azeite e pimentão picante. Com uma garrafa de Ribeiro Viña Costeira ao lado, estava melhor do que me lembrava que podia ser. Foram duas travessas.

Wednesday, November 17, 2004

O Onze Perfeito

Ao cimo do Parque.

Saturday, November 06, 2004

«Flor Preservada»


Colho, maravilhado,
A flor do teu sorriso;
E tudo à minha volta
Se transfigura:
O céu é um mar azul onde navegam aves;
E as montanhas, suaves
Ondulações
Do grande berço maternal do mundo.
Perturbado,
Confundo
As sensações;
E apenas sei que a vara de condão

É o sol de pétalas que me aquece a mão.

Miguel Torga, in Diário VIII, 16 de Outubro de 1958

Monday, November 01, 2004

O Chefe Inglês

Tirar um dia de férias em trânsito em Londres merecia melhor sucesso. Desconfiei da marcação telefónica com sotaque italiano ou outro que me informou que não necessitava de gravata mas deveria usar casaco. «You do not need to worry», foi o que me ocorreu. Quem não me conhece não sabe dos meus hábitos. Almoçar no novo restaurante do Gordon Ramsay no Claridge era o que me levava a esperar por uma conexão tardia a partir de Gatwick. Pois parecia uma anedota dos tempos de escola - um chefe inglês, serviço francês e organização italiana. Ninguém me mandou almoçar sozinho. Vou esquecer os pormenores por decoro. Mas nunca tinha estado em restaurante tão sofisticado em que os gritos de ira do chefe atravessassem a copa e chegassem em bom nível ao fundo da sala de jantar. Em suma, muita parra, pouca uva. Não ficou gorjeta. Para esquecer só mesmo o meu stand favorito na Berkeley Square, um quarteirão abaixo.

Saturday, October 30, 2004

Trabalho de casa


Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...

Voa pela janela
De encontro a qualquer Sol que te sorria
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...

«INSTRUÇÃO PRIMÁRIA»
Miguel Torga in Diário IX (18 de Abril de 1962)

Friday, October 29, 2004

Outra vez

De regresso às provas, calhou agora o Esporão branco Private Selection. Uma óptima surpresa. Com 14 graus e sabor a fruta doce, as duas garrafas a acompanhar o linguado frito à basca foram um exagero. Tal como o foi o Quinta do Noval Vintage 2000 a terminar. Muito melhor que o Silval 2000 provado há questão de dias atrás. Este Noval «sabia a morcela»? Era óptimo, e com a surrealidade que invade o quotidiano, tanto dá. A conta, essa sim, da terceira dimensão, parecia incluir o valor do trespasse do estabelecimento.

Wednesday, October 27, 2004

A prova

Não deveria ter acontecido. Almoçar sem qualquer razão com um Vale Meão de 2001 não deveria ter acontecido. Ainda por cima com um pregado frito com açorda de ovas. Mas fica a confirmação: é o melhor da praça. Mais uma prova na primeira oportunidade, de qualquer maneira, não irá fazer mal a ninguém. Quod abundat non nocet.

Tuesday, October 26, 2004

Ballad of the fallen

A Carla Bley salvou-me a noite de ontem. Envelhecida mas com a mesma aparência de sempre. A banda tocou meia dúzia de temas que passavam pelo «Amazing Grace» e terminaram com o Samuel Barber. Há dez anos, por ocasião da renovação do Tivoli tocou cá em Lisboa em grande estilo com a sua própria banda. Nem a filha conseguiu então estragar-lhe o concerto. Ontem quem lá estava mesmo era o Charlie Haden com a sua gente (incluindo o Bill Frisell?) e no final ondulou a faixa da Liberation Music Orchestra. Trinta anos depois dos 70. Em 2004, ao que parece numa zona tradicional agrícola de França.

Thursday, October 21, 2004

Umas crianças

É o que todos somos, afinal. No Terreiro do Paço, com a nova governação, não se lamenta a anterior gestão. A ementa recupera a antiga carta do chefe e difere das anteriores no mesmo local. O peixe galo estava óptimo e até o Sauvignon Blanc dos Lavradores de Feitoria ia bem a acompanhar. Saudades tenho das sobremesas da Bela Vista, sobretudo do pudim de ovos envolvida em folha crocante. Já quanto ao Presidente da Comissão, não sabe nem ao que vai. Somos todos da mesma idade. A que tínhamos à entrada da Faculdade.

Friday, October 15, 2004

It's good to be the King

O segundo Vale Meão ainda era melhor que o primeiro. E mantinha à distância o Syrah de 97 do José Bento dos Santos que mal serviu para aquecer. Para já não falar do branco da Borgonha que ficou apenas para as Senhoras. O Meão de 2000 não se confunde e continua a ser o campeão dos novos. A carne rendeu-se. Depois veio um creme de maracujá e bolo de laranja. Balvenie de 21 anos envelhecido em cascos de Porto, a música da Eliane Elias e a projecção em grande formato de um DVD com vozes da Concord. Não regresso sem programar a viagem com uma volta por Capetown, com ou sem passagem pela Namíbia.

Wednesday, October 13, 2004

The extra mile

O Armando João tem por missão não deixar que os investidores percam tempo antes de assinar os compromissos que anunciaram cumprir. Os papéis lá estavam prontos para assinar em cima da mesa à minha espera. Mesmo com uma quebra de energia a meio da reunião, reiterou o empenho quanto aos investimentos. Um novo modelo de obras públicas, com o patrocínio do Director Geral.

Sunday, October 10, 2004

Regresso

Foi necessário cá voltar para regressar às crónicas. Na bagagem para companhia vieram alguns episódios do Black Adder e algumas novidades de música recente. O Ben Harper com os Blind Boys of Alabama, pelas afinidades. Também o Nick Cave com os Bad Seeds. Esqueceu-me o último do Jarrett na aparelhagem de casa. A vida continua. «All is in the game».

Monday, July 26, 2004

Colegas

O sotaque do encarregado do restaurante do hotel não enganava. Tinha sido, afinal, meu colega de liceu. Agora, depois de viagens por vários restaurantes e hotéis do mundo, ficava-se por aqui e mostrava fotografias dele, da mulher e até de amigas locais para ver se eu me lembrava de quem ele era. Melhor história só a do passaporte perdido por ter caído para dentro da mala e esta se ter fechado no check-in. Há gente para tudo em todo o lado.

Saturday, July 24, 2004

Cabeças pequenas

A rapariga da loja do hotel só aceita notas de dólar com as cabeças grandes. As outras não. Nem o correspondente em Washington que coincidia no almoço em casa de bons amigos sabia bem porquê. Estava a caminho de férias perto de Lisboa, mas ainda ficará por cá para dar mais uns cursos de jornalismo durante a próxima semana no interior do país. Apesar do almoço com muitas especialidades diferentes e óptimos vinhos sul-africanos (na próxima viagem vou tentar regressar por Capetown e visitar as regiões viticolas) continuo a tentar o inverso do que predestinava o velho Deodato para quem as viagens serviam apenas para regressar com menos dinheiro e mais uns quilos.

Thursday, July 22, 2004

Back to business

Outra vez por cá. Agora para saborear umas alfaces cultivadas na zona, um mero frito com banana também frita e abacates batidos com sabe-se lá o quê. E lagostas, como de costume. É Inverno e está fresco à noite, agradável durante o dia para quem cumpre o protocolo ocidental do vestuário. Reuniões com salas cheias, relatórios e mails, em suma, compromissos para todo o Verão que começa com o vôo de regresso. Os americanos ofereceram pizzas e coca-colas a todos os nossos trabalhadores. Não dá para acreditar.

Monday, July 19, 2004

Sotogrande

O escaldão do sol do meio dia não perdoa. Mas não havia escolha. Era o campo ou a piscina. Sim, porque o Spa... Já bastaria depois a noite, na marina em frente aos barcos, com os veraneantes dos nossos dias a passear, para encerrar o fim de semana. Em suma, foi um shot de férias: companhia, kilómetros de distância, boa gastronomia, umas tacadas e tempo bom ou mau ou diferente.

Saturday, July 17, 2004

Hacienda Benazuza

Às portas de Sevilha, em Sanlúcar la Mayor, come-se o melhor jantar de toda a vida. O La Alquería integra-se no hotel que em séculos idos foi convento e agora alberga em estilo andaluz com jardins mouriscos os hóspedes que o podem pagar. Trata-se de uma experiência derivada do sucesso do El Bulli a norte de Gerona e serviu para colmatar a falha de há precisamente um ano, quando a minha reserva no restaurante do Mestre Adriá me foi recusada durante mais de um mês sem descanso para o período da minha estadia em Peralada. Pois desta vez, para desforra e sem hesitações, escolhemos o menú de degustación. Ainda hoje não sei ao certo o preço por pessoa. Quanto à ementa, parei de contar e de memorizar quando veio o melão grelhado, a que se seguiram a santola com horchata de trufas, ou as migas com trufas de verão, ou o atúm gratinado com maionaise do próprio atúm, já não recordo. O ritmo do serviço fez-me perder a memória dos pratos principais e da sequência de entradas, e ainda bem que de manhã pedi que me imprimissem a lista do menú, onde finalmente contei as vinte e quatro linhas da ementa. Recordo sim a gelatina de água de tomate com melancia e espuma de salsa (será possível?) e o atrevimento do chefe que decidiu por sua conta saltar o pré-postre e mandar-nos para a zona da tenda árabe da piscina, onde já não cheguei depois de passar no jardim com camas espalhadas a coberto das copas das árvores baixas. No dia seguinte, comer os montaditos da praxe no Pátio de San Elói foi como continuar a jornada pela Andaluzia trocando um confortável Bentley por um velho Land Rover daqueles que aquecem e gripam os motores. Por falar em Bentley...

Wednesday, July 14, 2004

Mais uma vez o Novo Mundo

O Tapada do Barão 2001, do Monte dos Perdigões é um ganda vinho tinto! Nem precisava do acompanhamento da paletilha de cabrito de leite para se valorizar. Tudo por recomendação do sommelier do sítio do costume. Não há já paciência para os vinhos minerais, ácidos, pretensamente com «terroir» e leves. Quem quiser, que beba água. Também há outras preferências plenamente justificáveis e defensáveis, como por exemplo as dos entusiastas dos encierros de San Fermin em Pamplona que durante dois minutos e meio tentam salvar a pele correndo no meio dos touros. Se o Zé, empregado do Padre Augusto em Padornelos visse na televisão as imagens do fim de semana, diria com certeza: «Ele, há-os!»

Monday, July 12, 2004

Velhos Amigos

Eram 146 no total. No início parecia que se tratava de uma outra festa, ou de outro curso, ou de um engano da convocatória. Não. A multidão de desconhecidos na varanda do restaurante em Monsanto era a mesma que muitos anos antes estava sentada nas bancadas ou no escadaria dos auditórios da Faculdade. A Clássica, como na altura todos lhe chamávamos. Ao meu lado, uns magistrados, um apresentador de televisão, outros menos familiares, uns mais velhos ou mais gordos, ou casados ou divorciados ou com crianças. O ciclo da vida. Mais violento foi já nesta Segunda-feira ouvir o Zé dizer que vai fechar. Com a mesma calma com que terá amealhado os ganhos da venda de todo o prédio em que se instalou durante 40 anos, está agora a vender a preço mais moderado algumas garrafas de bom vinho. Outras, as melhores, assegura que não se vão estragar. Até ao próximo dia 31, lá estará na mesma, com a família, a servir os melhores grelhados do Concelho. Depois, e em proveito da voragem imobiliária, será preciso ir procurá-lo na Linha, com vista para o mar, a gozar o resto da sua própria boa vida.

Friday, July 09, 2004

Casa Gallega

A boa cozinha deste restaurante em Paço de Arcos está a par da garrafeira com as últimas e mais notáveis novidades. Desta feita, e a propósito de um reencontro com o Quinta da Touriga-Chã (oh! «suavis anima»...) tocou a vez a umas perdizes meio escabechadas. Aqui fica, solene, a homenagem aos autores - das perdizes e do vinho.

Thursday, July 08, 2004

Crazy

O primo Júlio é uma referência da colheita de uma geração. Produz o último dos vinhos do lavrador da família, «sumos de uva» fortes e desregrados como os transmontanos da terra quente. Trata das terras de alguns amigos e parentes e foge da mulher como o diabo da cruz. Bem diferente é o Iglésias que ontem se confessou no Estoril perante uma assistência comparticipante e conivente. «Já não canto por dinheiro: dinheiro tenho a mais... e tudo o que quero comprar é barato!». O vinho do primo Júlio também não está à venda. Mas bom e barato é o novo vinho da Adega de Valpaços, que à semelhança do ano passado lançou um conjunto de garrafas pequenas de vinhos diferentes. De resto, e ao invés do que se passa nos casinos de todo o mundo, as coisas boas da boa vida encontram-se onde menos se espera.

Sunday, July 04, 2004

Venham os pardais

O Zagorakis adaptou-se como quis à nova situação. Substituiu o gato de aluguer que tinha sido enviado por senhora amiga e que não sobreviveu à pressão das amizades infantis. Deste, nem se lhe guardou o nome. A angústia foi superior. Não se libertou o suficiente do desafio e em pouco estava de novo confinado às sortes que conhecia. Já o novo campeão, não. Baptizado por respeito à sua condição estranha, reagiu com a confiança e o à-vontade de quem ganha novos títulos. Instalou-se e fez da casa nova o seu próprio campo. Só descansou depois da barriga cheia.

Saturday, July 03, 2004

A Senhora da Oliveira

O Francisco, quarto filho de bons amigos de sempre, foi baptizado no centro histórico de Guimarães. A festa seguiu nas cercanias de Braga, em Esporões, na quinta da família, com serviço à antiga, entradas para todos os gostos e o vinho verde tinto da casa engarrafado para a ocasião, para animar o ambiente. Outro vinho da família, também verde mas branco, o Quinta das Ermízias, floral, sem acidez, acompanhou bem e com surpresa o bacalhau minhoto que seguiu. No fim, os pudins e os doces de ovos atrasaram o regresso a casa.

Friday, July 02, 2004

O Parque do Palace

Não tem comparação com nada jogar no golfe de Vidago. Esquilos, árvores centenárias e este aroma das tílias ninguém mais tem. Depois, a sombra que ladeia o regato que atravessa entre muros o percurso baixo, confirma que este é um destino impar da boa vida. Desde a Páscoa acresce a melhor imperial da Europa, no recém inaugurado clubhouse que faz inveja ao acolhimento que já experimentei no Dromoland Castle na região do Shanon. Melhor, só terminando o dia com um jantar no Hotel Rural de Samaiões. Problemas como ter que terminar sozinho o costeletão para duas pessoas acompanhando com o vinho da casa não são nada comparado com o desafio dos buracos 5 e 6 do percurso de Vidago, nos quais o handicap não tem apenas o significado de poder bater mais pancadas que o par mas seguramente o de poder perder as bolas que se queiram entre as giestas e os pinheiros altos. O Sebastião, que se reconhece facilmente ao longe pela silhueta abdominal, insiste que é necessário ajudar na apanha dos pinhões. Por isso não há mal em bater nos troncos com força. Os esquilos aqui jogam sem handicap.

Thursday, July 01, 2004

Do fundo do coração

...obrigado Felipão! «Será demais pedir a taça?» De que é que a gente se queixa? Agora que cê não nos deixa? (Era esta a vossa deixa) Vou apagar o post de 12 de Junho. Gregos outra vez...?

Thursday, June 24, 2004

O cemitério dos Ingleses

O Everton, recém regressado do Brasil, acha com à-vontade que vamos ganhar. «O Beckham está mais interessado em passar modelos». Depois, o ilustre interlocutor da reunião da tarde tinha que presidir a uma Assembleia Geral precisamente na localização supra referida. Por mim, acho que vamos ganhar com falta de fair-play: em fora de jogo, penalty ou falta mal marcada, tudo serve. O pior é se não...

Wednesday, June 23, 2004

Eu acredito

Dizia o cartaz no meio da bancada no fim de semana. Depois de uma passagem pelo apoio ensurdecedor dos adeptos ingleses, anseia-se por uma festa igual, mas agora para o nosso lado. Não sei quem me convidou nem quanto pagou, mas acredito que muito. Valeu a experiência. Não perguntei a quem devia desta vez. Pode-se ter fé na sorte?

Friday, June 18, 2004

Prognósticos afinal

Vamos ganhar. De fonte segura, tudo parecerá como a mais recente final, mas vai-se resolver facilmente. Solar de Serrade, um bom verde para aumentar a esperança. Uma maravilha, os lagostins de hoje.

Thursday, June 17, 2004

Minority Report

Se o primeiro milho é dos pardais, para que pássaros vai o último? Farto das sardinhas de ontem, e a precisar de um bom prognóstico para o fim de semana, o melhor seria ir perguntar ao Eduardo. Talvez os lagostins consigam prever o desfecho do próximo confronto. Em diversas ocasiões não consegui ver até ao fim o filme do Spielberg. Não sei se valerá a pena ou se entretanto adivinho como conclui. E já agora, outras perguntas. O Vintage Dalva 2000 já não está como dantes? E como estará o de 1997 que iremos beber proximamente? E a nova carrinha Jaguar é uma boa oferta para uma senhora? Mais apropriada que uma da Volvo? Perguntas difíceis e com resposta adiada. Parece que afinal o almoço é hoje no último piso do Corte Inglês. Prognósticos só para depois.

Wednesday, June 16, 2004

A carta

Foi finalmente publicada na edição da Revista deste mês. Tinha sido enviada juntamente com a opinião de dois dentre os três mais cotados especialistas nacionais da matéria. Com pena, apenas o enunciado da questão foi para o prelo. Parece que afinal foi premiada mais pelas possibilidades que abria ao editor de responder com brihantia do que pelo conteúdo informativo do que no seu texto continha. De todos os modos, dava razão a todas as partes.

Saturday, June 12, 2004

As Bandeiras

Começaram as contas da esperança. Depois, quem sabe, restará a saudade. Dois anos e várias derrotas depois de contratar um brasileiro com nome italiano e altivez argentina, acreditámos que torcendo muito jogávamos bem. Dizem os responsáveis da nação que vencemos pelo menos a batalha da organização. É um progresso civilizacional. Melhor do que reclamar a vitória moral.

Tuesday, June 08, 2004

Jacarandás

Uma semana fora e já as melhores árvores de Lisboa floriram e cobrem os passeios de cor lilás. Descendo a 5 de Outubro nesta época fica-se com pena que acabe depressa. Mas nada se compara com a minha visão matinal ao longo das Descobertas, a caminho do escritório, com o rio ao fundo. As sardinhas do almoço acompanhadas com Soalheiro estavam óptimas, eram grandes e gordas. Teremos este ano uma boa temporada de lota?

Sunday, June 06, 2004

Dia D

Milhares de papoilas cairam ontem sobre a costa da Normandia, ao largo de Caen, em comemoração dos 60 anos do desembarque para reconquista da Europa. «Por cada pétala uma vida, por cada vida um coração em busca da liberdade». Seguem-se as comemorações em Arromanches, na praia rebaptizada para aquele dia como Omaha e que recebeu as vidas de mais de 9 mil americanos. Em directo, o príncipe, também ele já um veterano, saúda os combatentes de então, e dá sentido à memória daqueles que não sobreviveram e em cuja honra se usa a flor na lapela. Simbolicamente plantou uma árvore e inaugurou um jardim.

Friday, June 04, 2004

A hierarquia

Ontem foi dia de reunião com o novo titular da pasta. Ainda não o conhecia pessoalmente. O mesmo porte, a mesma postura, e boa atitude da elite do conselho. Alguns conhecidos da metrópole chegaram depois à sala de espera, para reunião posterior. À saída, todos conversámos sobre o novo meio de transporte rápido que brevemente será entregue e que dará para transportar mais do que as doze pessoas do que o actual, com maior rapidez e comodidade. Já a reunião com o outro colega ao fim da tarde, entre bebidas no hotel, foi menos cerimoniosa. Velho amigo e de longa data. E sabia imenso de futebol. De ambos se diz que quando o chefe sai, fica um ou outro a tomar conta das coisas. Até porque é que o Baía não devia ir à selecção. Tem mais sorte que eu e estará no Porto na inauguração do Euro. Não me recordo se confirmou também que o Mantorras tem pelo menos mais dez anos do que aquilo que diz. Recordo sim, passado este tempo que terá sido o desgraçado café que tomei por distração da conversa na sala de espera da reunião da manhã que me terá condenado a bifes grelhados e maçãs cozidas para o resto da estadia.

Wednesday, June 02, 2004

O Acordo Verbal

«Tens capacidade para isso?» É que não havia mesmo necessidade de apreender o nosso jipe só porque os documentos do aluguer tinham ficado esquecidos em casa de quem conduzia. Afinal tudo se regularizou entre amigos, não antes sem a autoridade esclarecer que para nos darmos como tal tinha primeiro de lhe «apertar o pescoço». Naturalmente, amigos sim, mas contas à parte... «Não chega, pede aos cótas, que eles têm dinheiro».

Tuesday, June 01, 2004

A ilha dos Padres

Um dia gostaria de saber que peixes se podem pescar em frente à antiga missão ocupada nas recentes décadas por fuzileiros. Uma manhã inteira não chegou para pescar nenhum... O Ezequiel, um ilhéu pacato e que conduzia bem o barco, não comprovou aquilo que o seu aspecto prometia. É certo que por ele teríamos ido para mar alto pescar barracudas, mas os receios da distância e do enjôo reduziu a aventurosa tentativa aos canais das águas interiores entre as ilhas. Sem estrear sequer as canas, a jornada ficou-se por uma almoçarada à beira mar ao som dos Juluka, um grupo da moda sul-africano e pela passagem pelas urgências da clínica médica para uma vacina contra o tétano por culpa de um anzol espetado no braço.

Monday, May 31, 2004

A barra do Kwanza

70 km a sul da capital desagua por entre mangais o rio que atravessa o país. O passeio até lá atravessa zonas muito povoadas e pobres até chegar à secura exemplar da plataforma africana, com o Atlântico bravio a enrolar-se em praias desertas a perder de vista. No cimo de um morro, e a convite de um conhecido empreendedor, juntava-se um grupo acidental para saborear uns camarões grelhados com Möet Chandon e umas tiras de carne grelhada jugosa acompanhadas do bom Tapada de Coelheiros tinto. Em redor, espraiava-se a mancha verde do delta do rio naquele que será o futuro lugal de um hotel ao estilo dos Private Game Reserve Sul Africanos. Enquanto o «Ambassatore» explicava a relação entre o país dele e este, remontando ao século XVII (!), ouvia eu os relatos do jovem casal que partihava a boa amizade comum com o Pe. Oliveira, que os tinha casado no Verão passado e que conheciam de outras circunstâncias - ou guerras, como costumaria dizer-se. Depois de atravessar os imbondeiros milenares em estradas rasgadas na passada semana, seguindo as impressões de quem lá estivera há 30 anos, confirmo que por aqui, e no que a este rio respeita, a natureza manteve-o alheio à intervenção do bicho homem.

Friday, May 28, 2004

Os Argonautas

Depois de Viena, Sevilha e Gelsenkirchen (que raio de nome!) espalhamos jogadores de futebol e algum que outro treinador pelo mundo. Desde que os autocarros de Londres tiveram o Figo a todo o tamanho por conta de qualquer patrocínio comercial, a representação externa portuguesa deixou de se fazer pelo Eusébio, o fado e etc. Agora resta ver se por cá somos capazes de a partir de Junho enviar descobridores do novo mundo do desporto televisionado à custa de quem se anima com este passatempo. «Navegar é preciso...», como canta o Caetano. Por mim, recordo ter visto o Manchester dentro de um hotel nas margens do mar da Irlanda, o Lyon na costa ocidental de África e o Corunha fechado no quarto do Four Seasons de Georgetown. Cosmopolita, não é?

Thursday, May 27, 2004

O Princípe Cor de Rosa

E viva o Porto! Dezassete anos depois, desta vez não fui à baixa, mas recordo bem que nesse ano, em cima da estátua da Praça dos Restauradores estava um homenzinho bem passado que repetia o gesto do calcanhar do Madjer, gritando «Toma!...». Este foi agora um jogo ao contrário do que nos costuma acontecer, do qual nem sequer teríamos a vitória moral. Apenas o prazer de ver a realeza mundana irritar-se e abandonar o assento da tribuna. Tão divertido como subir às estátuas.

Tuesday, May 25, 2004

Delirium Tremens

Os elefantes cor de rosa do rótulo e dos copos a condizer identificam a melhor cerveja do mundo, sobretudo depois de se beber até ao fim. Deixa mais saudade do que a Duvel, outra favorita, igualmente memorável. Depois de um aperitivo com os ditos elefantes - no rótulo há também umas pombas douradas a voar em desiquilíbrio e uns crocodilos de óculos escuros - o Reserva Douro da Sogrape não se notabilizou. Tenho que voltar ao Pallazzo em Bruges. A Rainha de Inglaterra é fã dos Abba?

Monday, May 24, 2004

O Eduardo

«Vai ser difícil..., vai ser um jogo como o do ano passado...». No Ramiro, a marisqueira da Almirante Reis que fez furor nas reportagens das televisões sobre a Expo 98, quem nos escolhe o marisco é um portista ferrenho, daqueles que pagou o preço que a Cosmos pedia pelo programa completo para ir à final da Alemanha logo no primeiro dia. O ano passado também foi a Sevilha. Normalmente acerta nos prognósticos dos jogos enquanto escolhe os lagostins. Desta vez torceu bastante o nariz. A coisa está preta, parece-me.

Friday, May 21, 2004

O Farol da Torre

É uma tasca! Com melhor localização seria difícil. Mesmo à vista da Torre de Belém, na Rua da Praia do Bom Sucesso, sem número, apenas exibe como sinal identificativo o ano de 1871 numa das portadas laterais. Embora com instalações mais amplas, faz lembrar o Senhor Pedro, de Alfama, junto às escadinhas de S. Miguel. Há bifes, lombinhos e espetadas e o mesmo tipo de frequência. Carapaus e sardinhas, com toda a certeza também. Quem organiza um encontro de confraria sabe ao que vai e mesmo que seja um grupo de amigos habitualmente enófilos, por lá vingaram as imperiais.

Thursday, May 20, 2004

O Instituto Alemão

Nos jardins do Goethe-Institut fala-se português com sotaque das terras de Vera Cruz. E vai até torcer-se pela nossa própria selecção na ausência da canarinha. Se dúvidas houvesse, os emblemas do Flamengo por detrás do balcão esclarecem as preferências. Anuncia-se já um horário alargado até mais tarde e para todos os dias da semana, incluindo Sábados e Domingos, com televisões para acompanhar o campeonato. Entretanto, para quem quiser apenas intervalar dos tratamentos hospitalares ou das questões da justiça mais mediática, recomenda-se o recato das árvores antigas e a simpatia de por quem lá serve. Sai um jogo de futebol internacional com uma Erdinger?

Monday, May 17, 2004

O novo mundo

Os bons vinhos portugueses parecem afastar-se dos parâmetros do «vinho à antiga». Ou serão apenas aqueles que mais gosto que deixaram de querer ser leves e secos (à imagem do Bordeaux?). Vinhos como o Quanta Terra, que até ganham aos clássicos espanhóis, como o Alión do jantar deste fim de semana passado, são colocados no mercado por produtores desconhecidos e esgotam nas prateleiras de quem o vende. Ou o Quinta da Touriga-Chã, de famílias de notáveis do mundo dos vinhos, que rivaliza em tudo com os bons vinhos da Califórnia. Vão sobrar apenas as castas autóctones, mas mesmo essas já têm o sabor das uvas dos novos continentes.

Wednesday, May 12, 2004

Epicurista

Passei afinal pelo Gourmet do El Corte Inglês para comprar umas garrafas do vinho com que ontem tinha também lá acompanhado a vitela recheada com alheira. O tal regional. Também para comprar um outro, iqualmente referenciado, e igualmente candidato ao concurso não confesso de nomes inéditos. Trata-se do Quanta Terra, produzido entre Alijó e Sabrosa, destinado às refeições em família do próximo fim de semana. Regressava eu de uma reunião de trabalho tardia, depois do golfe matinal. Será que por cá também expulsaríamos o correspondente do New York Times se fizesse uma reportagem sobre os hábitos de bebericar do nosso Presidente? Do Brasil chegarão a partir de agora melhores notícias, porque já não estará lá quem dava as más...

Tuesday, May 11, 2004

Vinho Regional

O que levará os legisladores a sistematizar o uso de denominações para apelidar um bom vinho? Vinho Regional Beiras, era o que constava do rótulo do que bebi ao almoço. Nem a mínima ideia de onde era. Indicava apenas as caves que o produziam, em Sangalhos. Vence a nomenclatura, o controlo das palavras, ainda por cima por força regulamentar. Era um óptimo vinho, aliás. Levava Baga para além de Cabernet e Merlot. Depois fiquei a saber que a Revista de Vinhos lhe dava 18. Vale mais esta informação do que o título a que a lei obriga - e que nada informa. A ironia é que outro rótulo para além da referência legal obrigatória acrescentava que se tratava de um «Single Estate». É bem. Em vez de saber de onde é, fico a saber isso, em inglês. Continuamos ao contrário. E continua a produzir-se «Port» na Austrália e na California, onde não tem aplicação a tal nossa lei...

Thursday, May 06, 2004

O fuso horário

A mudanca de hora faz-se no chuveiro da sala de espera de Heathrow depois da travessia do Atlântico. As refeições tambêm já não se tomam a bordo. Já antes, a mesma boa companhia aérea tinha oferecido aos clientes com melhor tratamento uma sala de jantar como deve ser. A de Dulles, o aeroporto internacional de Washington, permite saborear os vinhos do Francis Ford Copola e o pôr do sol ao mesmo tempo. Para concluir que a memória da saída é sempre a daquela mesma sala e do relações públicas que vem chamar os passageiros quando a fila do embarque se encurta. E também que o Cabernet Sauvignon da Sterling é melhor que o Merlot do cineasta.

Tuesday, May 04, 2004

The rain in Spain

...falls mostly in the play. E para comemorar, um Chardonnay israelita, produzido nos Montes Golan, na Galileia. Era Kosher - tal como os anfitriões - e certificado como tal por um Rabi no rótulo. Bem melhor que o francês do Pays d'Oc em alternativa.

A National Gallery of Art

A chuva tropical do final de dia de Verão não chegou a estragar o dia passado a jogar golfe em Fairfax, na Virginia. Com toda a chuva a seguir, aproveitei a entrada livre do maior dos Smithsonian para compensar um intervalo da agenda. Lá reencontrei o flamengo Hans Memling, ao lado de vários Goya, de uma outra senhora do Leonardo da Vinci, do Santo Ildefonso do El Greco e da Lucrécia de Rembrandt. Depois, as salas com os Monet, Gauguin, Van Gogh, Renoir, Manet e Cézanne. O cálice de S. João Evangelista do Memling foi o que mais me impressionou, recordando-me os muitos momentos de repouso a olhar o tríptico e algumas imagens que o fazem famoso em Bruges no museu com o seu próprio nome. Bons tempos, já lá vão quinze anos. Também me impressionou o cálice de Zinfandel da hora do jantar. A verdadeira uva da California. A acompanhar um Porterhouse steak de 20 onças - um kilo de bife, mais coisa, menos coisa...

Thursday, April 29, 2004

O Zé

«Olha o menino...» diz o Senhor Zé a quem entra da porta da rua directamente sobre o balcão dos grelhados. «Então é preciso um ano para cá vir?». Os melhores nacos de vitela de Lisboa e as melhores batatas fritas do país estão lá, confiados desde o antigo regime à melhor cozinheira de Lisboa. «Então vai ser um Pêra Manca?». A carta tem vinhos que se tornaram antigos. «Ai não?». Os clientes conhecidos têm tratamento familiar. «Quer desconto?». E a meio da posta de garoupa, a pergunta agendada: «O vinho chega?». Entretanto, as últimas batatas da travessa. «Vá, até à próxima, dê lá cumprimentos ao outro senhor...»

Wednesday, April 28, 2004

O Palácio

Poucos são os privilegiados em partilhar a mesa sobranceira às vinhas da Bacalhoa para almoçar. Ainda mal tinha começado a beber o espumante do outro palácio, o de Loridos, e tentava recordar a data da última visita, quando sem especial propósito, um dos anfitriões me falou no Petit Verdot. Foi feito nos dois anos que passaram mas não é ainda hoje passível de venda. Apenas 600 litros. É novidade nacional. Aliás, lá fora é também sempre uma originalidade. O de 2003, recém retirado do casco traz à memória a prova do Griñon, que continua a ser a referência ibérica para esta produção monovarietal. Depois na varanda, na companhia da família e com as doze fiadas da casta em frente, serviram-se os outros vinhos da casa com o almoço propriamente dito. Terminou com doce conventual e Moscatel Roxo de 92, que não se consegue encontrar em lado nenhum. Quanto ao P.V., teremos que esperar que a lei mude e a sorte favoreça esta audácia ou que vá para a praça tendo no rótulo apenas estas mesmas iniciais. «To live outside the law, you must be honest...» (já dizia o Bob Dilan?).

Tuesday, April 27, 2004

Saraiva's

Neste antigo clube de sportinguistas, serve-se comida tradicional para os clientes costumeiros. A massada de garoupa do almoço era bom exemplo do que se pode fazer de muito bom sem preconceitos. Com picante, torna-se única. O pessoal assegura aos conhecidos que a receita é a mesma do arroz de garoupa, mas com massa. Também o Vinha Grande de 2000 que acompanhava respeita a mesma tradição de boa qualidade à maneira antiga. E também sem presunções. Surpresa é a nova colecção de cervejas de várias origens que agora o Salvador tem à venda. Parece que estão lá mais para uma merenda ou visita fora de horas, e ignora-se se os rotineiros comensais alguma vez se aventurarão por esses campos. Para mim, será já na próxima oportunidade, nem que não seja para recordar as Duvel que marcaram a abertura do ano lectivo na minha passagem por Bruges. Não vai perder pela demora, além do mais porque ficou lá aberta a nossa garrafa de Vintage de 91 da Ramos Pinto. Que, tal como a memória das Duvel, já arrasta o peso dos anos.

Sunday, April 25, 2004

Picanha

Que rico dia de primavera! Não faltou o calor nem a companhia dos amigos à hora do almoço para comer picanha com saladas frescas. E a acompanhar? Cerveja. Porque o dia é revolucionário que baste. Tudo com peso e medida, em tabuleiros. Muito popular.

Friday, April 23, 2004

Almoço de Páscoa em Praga

Não lembraria ao diabo, almoçar em Praga no Ucerta no Domingo de Páscoa. Champanhe da Morávia, comida e vinhos de que não há memória. Repetição para jantar e depois por diversas vezes em companhias feitas e desfeitas, até com a presença do Havel. Histórias de bonés e chapéus, tudo com uma filtragem a sépia ou a preto e branco, em slides que tocavam a todos. Antes tinhamos falhado uma Missa de Mozart na Catedral. Foi em 1988, um ano antes da queda do Muro. Agora, o restaurante tem página web e dentro de uma semana fará parte da Europa do lado de cá.

Tuesday, April 20, 2004

Tous les matins du monde

Depois de um artigo elogioso no DN, tocou-me um excelente almoço no 100 Maneiras, a propósito de um aniversário amigo. É o mais novo dos novíssimos e candidato a notável de Cascais, com excelente localização sobre a praia dos pescadores. Os promotores são também novos e experimentadores. Não é para qualquer um arriscar espumas em desafio ao Mestre catalão Adriá. Nem para qualquer comensal apreciá-las. Serviram o melhor foie-gras confitado com pera e redução de moscatel de que me lembro. Quanto ao vinho - e por estas e outras, a conta deve ter sido consequentemente pesada - limito-me aqui a registar que bebemos metade do stock da casa da Homenagem ao António Carqueijeiro de 1999 do Bento dos Santos ... Que banalização! Um disparate. Aliás, para quem abriu portas há um mês, com mais umas visitas destas, a lista de vinhos perde a estrela convidada. Depois, tudo terminou com um Xerez oloroso de 20 anos a acompanhar a sobremesa. Mesmo sem parecer, o resto da pouca tarde que restou foi a pensar no agradável que seria dormir a sesta à sombra das interpretações do Jordi Savall.

Thursday, April 15, 2004

«So far so good»

Foi preciso regressar à costa de África para conhecer as regras de funcionamento do Royal Ocean Racing Club, a gravata com cavalos marinhos dos sócios deste clube de St. James, as pressões dos ventos e de como se navega em regata. Também para entender o cricket, que se joga em cinco dias com intervalos da uma às duas da tarde para almoço e às quatro e meia para o chá. E que um jogador das West Indies acabou de bater os recordes relembrados com quatrocentos pontos contra a Inglaterra. E também que os supremos de garoupa podem ir muito bem com o molho doce preparado com frutas tropicais e que no Coconuts se vê o por do sol em descida a pique sobre o horizonte. E ainda que aquilo que parece brilhar com mais intensidade no céu escuro a Sudoeste não é nenhuma estrela ou planeta mas apenas a estação espacial internacional.

Thursday, April 08, 2004

Tino Fandiño

Nas cercanias de Ourense, e ao lado da Casa do Concello de Allariz, serve o Celestino Seara de seu nome boas refeições segundo o ritual galego. Facilmente se perde quem desconhece o caminho medieval empredado pelo embrenhado conjunto medieval digno de visita. Depois de entrar numa casa que também ela será de origem medieva, recebe o Tino com o acolhimento usual dos nossos compatriotas do norte da Península. Na mesa, a louça branca e azul de Sargadelos, que está lá posta para quem a reconhece. É tudo bom até ao fim, sem poder escolher ou destacar nada pior. Até o vinho a bons preços, diz quem vem da capital. Voltamos depois de amanhã, com mais convivas, e esperamos que o Comandantesim, porque General era o pai Fandiño») nos receba bem muitas vezes.

Sunday, April 04, 2004

O Escanção

Está na Fortaleza do Guincho o melhor sommelier nacional. Além do mais, é acolhedor e simpaticamente bom conversador. Percebe do casamento da gastronomia com os vinhos. E foi precisamente o casamento que nos levou a lá jantar. Fazia um ano da última visita, e desta também foi para comemorar o aniversário. Entretanto, vários prémios e menções respeitáveis distinguiram o local, a cozinha e o serviço. E por cima de todos, o Manuel Moreira. O menu de dégustation não é a mais nem a menos. Tem novidades que chegue, requinte de apresentação e é sofisticado para merecer as entrelinhas da Revista de Vinhos que entendeu não repetir prémios do ano anterior.

Thursday, April 01, 2004

«O Amuado»

Chegando pela manhã ao escritório, lá estava ele em cima da secretária, apresentado como convite. Assinado e datado de 1892, o quadro de Souza Pinto que também tem por título «Chegado Tarde» marcou o valor mais alto de uma pintura portuguesa na casa leiloeira que agora promove a exposição do autor no Porto. Também me marcou a mim, que assisti à sua venda nesse mesmo leilão e fixei a expressão do miúdo à entrada da casa de aldeia em cena de amuo. Quem veja com os próprios olhos o quadro, percebe. É enorme de tamanho, de sentimentos e até de nome. Não há maior inocência do que a de uma criança amuada.

Tuesday, March 30, 2004

Mais uma aula

Desta vez, foi a convite do amigo Carlos. Nem sequer sabia qual era o programa. Também não era preciso falar com o responsável da pós-graduação. Aceita-se e pronto. Afinal o programa era livre, para expor a minha experiência pessoal, ou sobre o que se espera dos outros. Só me faltava esta. Ainda corro o risco de ser sincero.

Friday, March 26, 2004

De volta à Meia-Noite

O regresso está marcado para as 23 e 59. Ainda com o mesmo suor do sol da varanda do décimo quinto andar sobre a baía ao início da tarde. Os fatos não são para aqui. O sol sim. Afinal toda a carne é proveniente da África do Sul. Não se pode confiar. De regresso daqui a três semanas para evitar que nos voltem a chamar «seagull», recolhendo o peixe da água e no ar o mais depressa possível. Mas ainda não é desta que fico adepto.

Wednesday, March 24, 2004

Posta Mirandesa

Era o que dizia por debaixo da travessa do buffet. Vinha do Brasil, e o Sr. Inácio, chefe de cozinha não pode confirmar o nome que lhe davam na origem. Porque tinha ido almoçar. Continuo na costa ocidental de África e comi quatro. Memorável. O picante à parte era obrigatório, claro. Não vou jantar.

Saturday, March 20, 2004

A Verdadeira Classe

Viajar nesta Primeira Classe remonta a outros tempos. Altos dignatários ou família directa deles, governantes e governadores, uso do Protocolo do aeroporto. A muamba acompanhada de Esporão reserva é própria de um almoço de Sábado. Sair sem mostrar os Passaportes também já não foi novidade. Que calor. O mundo real à nossa espera confessa nem sequer ter o carro que se comprometera alugar para a semana. Funcionou o backup.

Thursday, March 18, 2004

Vem aí a Primavera

Enquanto se discutia porque é que os pássaros agoram chilreiam pela madrugada fora, o Toscano na Parede servia a melhor açorda de que guardo memória. De lagosta, é claro, com base de coentros fortes e envolvida ali mesmo à frente dos comensais. Não passamos a vida a almoçar, mas nestes últimos dias, e em vésperas de uma viagem de trabalho mais cansativa, é bom relembrar que por cá virá entretanto a Primavera. Para onde vou, é fim de verão e calor e não se avizinha qualquer tempo de repouso lúdico. Esqueci-me de fazer em devido tempo a profilaxia da malária. Vamos lá a ver se o tentativo autor da cassete 3 anda a ler estes textos.

Tromba Rija

Tenho que confessar que a visita a Marrazes foi a segunda escolha, depois de a família Suspiro confirmar a impossibilidade de aceitar mais três clientes durante todos estes últimos dias. Um sucesso, este Condestável. Casa cheia a perder de vista e reservas necessárias com uma semana de antecendência nem parece do nosso país. A mais, fora das capitais nacionais. No Tromba Rija, a entrada já não se faz pela porta grande, mas sim pela «porta ao lado», e dá acesso à sala mais pequena do restaurante. Poucas pessoas. As entradas continuam bem. Mas sente-se um não sei quê... De todos os modos, a lista de vinhos de mesa é admirável e com escolha. Beber um Quinta do Mouro 1996 e poder pedir um Touriga Nacional de 2001 do Esporão não é em qualquer lado. A mesa de queijos é isso mesmo - uma mesa cheia de queijos presidida por um triunvirato imbatível de serra, terrincho e cabreiro com marmelada áspera recém desenformada da tijela. Depois, para terminar, o leite creme faz as pazes com qualquer outra coisinha... A propósito, já agora é melhor não dizer a ninguém que fomos a Leiria só para almoçar.

Saturday, March 13, 2004

O Bom Amigo

Não resisti ao impulso da fome nem da curiosidade gastronómica e provei o «fried cod with chips». Ali mesmo, à vista de Castletown, enquanto aterrava o avião que me levaria. Não passou da prova. O cheiro ainda não se desvaneceu da memória. E tive que me ficar pelo «bread and butter pudding». Já em casa, recuperando dos sucessivos vôos, tinha à espera uma das boas formas de o cozinhar, dentre as mil e uma possíveis. Por alguma razão os restaurantes estrangeiros de todas as nacionalidades são tão populares nas ilhas de Sua Majestade.

Tuesday, March 09, 2004

St. George

No St. George Bar não é permitida a entrada a Dragões. O lema da casa poderia ser também o popular dito de Edimburgo para os fracos: «they only drink half pints». Era um antigo salão da Igreja em frente com quem partilha o Santo Padroeiro do mesmo nome e de quem herdou todas as cadeiras e certamente algumas das mesas. Primeiro foram as doses regulamentares de cerveja, depois uns copos cheios de shiraz australiano também pela medida grande que se esvaziaram até ao «sticky toffee pudding» final. Descer para o Hotel na Harris Promenade com o vento do Mar da Irlanda na cara foi para valentes com vontade de ver o jogo contra o Manchester. Quando lá cheguei, já perdiamos por um.

Monday, March 08, 2004

Tic-Tac

Foi necessária a chantagem, recorrendo ao substituto actual dos chupa-chupas - uma caixinha de Tic-Tac de limão - para saber a história dos meninos que procuravam animais que pudessem guardar em casa, até que foi seleccionado o sapo. Quanto aos demais, teria a menina dito «I send them back!». Todo o fim de semana com a expressão na boca fizera supor o alívio de quem despachava os novíssimos discípulos depois das obrigações cumpridas. Mas afinal não. Não tinha sido uma expressão da Miss de inglês que, depois de dada a sua aula, entregava os educandos à formadora seguinte. Ficou ainda por esclarecer a preferência dada ao sapo. Uma expectativa de príncipe?

Thursday, March 04, 2004

«The greatest luxury in life is time»

No meu tempo eram só 50 minutos de aula. E sempre foram. E os minutos do intervalo eram para respeitar, mesmo sem a campaínha do Secundário. Para além do tempo, todas as aulas tinham o sabor de opressão. Depois vinham dez minutos de pausa relapsos, que passavam sem se dar por eles. Agora, parece que é moda dar aulas de 75 minutos... Até nas melhores escolas superiores. Já não subia a um estrado de sala de aulas desde que me despedi da Faculdade por falta de tempo para leccionar. Ou pela vontade de ganhar dinheiro sem sacrificar horas fixas com alunos à espera dos 50 minutos de aula, sempre à hora marcada. Desta vez foi para trocar de funções com o docente, ocupado com dignatários constitucionais em torno de uma questão esguia. Só o Zé, que encontrei à porta da entrada e me acompanhou à sala de aula, apresentando-me aos alunos, ficou a saber das verdadeiras circunstâncias da substituição. Aos alunos expliquei apenas que aquilo que tinhamos trocado de funções, e que aquilo que o docente deles estava a fazer era o que deveria eu próprio estar a fazer. De facto, não almocei...

Friday, February 27, 2004

The Thin Red Line

463 alugueres é o número que consta da minha ficha do video clube. «Passas a vida a ver filmes, e depois dormes pouco...». Que recordações pode haver na memória de quem viu tantas fitas? E somem-se as dos clubes de vídeo das férias, tanto no Norte como no Algarve. Muito melhor e actualizado o primeiro do que o segundo, que não passa de um boteco de Verão. Poucas ficam gravadas mesmo. Talvez pela comparação com o demagógico contemporâneo Soldado Ryan de Spielberg, fica mesmo recordada a obra violenta de Terry Malick com que inaugurei a era do DVD. Tal como o Roger Rabitt do primeiro leitor video depois do casamento. Quanto aos alugueres, resisto a converter os números em preços actuais e dou-me por contente que por essa razão me tenham graciosamente passado a Morvern Callar de uma noite para a próxima Terça-feira.

Wednesday, February 25, 2004

Sra. da Saúde

Já passava da meia noite quando iniciámos o regresso e continuava a chover a mesma chuva que tinha tornado os três dias do desejado acampamento de escuteiros em Évora um exercício de persistente resistência para os mais pequenos. Aos sete anos aguenta-se enquanto se pode. Perante a proximidade dos pais e avós, quebrou. O cansaço e a antevisão de mais uma noite com o saco cama encharcado ajudaram ao desfazer da festa. Entregue ao sono na carrinha de família deverá o jovem lobito ter apreciado como nunca antes a comodidade da viagem, da climatização e da ausência de gotas a cair do tecto. E também terá passado a apreciar o calor da cama de casa e do sossego doméstico. Pelo menos até farejar o cheiro da próxima aventura da Alcateia. Já na Páscoa...?

Monday, February 23, 2004

Crumble

Dá vergonha explicar que a minha primeira prova ocorreu no último vôo transatlântico a bordo da primeira classe da British Airways. E que a receita que trouxe para casa veio da hospedeira encarregada da supervisão da cabine. Era aquela a sobremesa tradicional dos Domingos em casa da mãe dela. O segredo estaria em misturar com os dedos manteiga aos cubos com açúcar amarelo e depois levar a um forno muito quente. Para mim, o segredo dessa primícia foi acompanhar também com um colheita de 1984 da Warre que ia a matar. Neste fim de semana, em casa, nem as frutas ficaram suficientemente cozinhadas nem o Moscatel de 20 anos superou o conjunto do meio do Atlântico. Valeu o resultado do FCP para suprir a desalentadora experimentação. O conjunto não era, afinal, de primeira classe...

Wednesday, February 18, 2004

Porto Novo

«Eu a si, conheço-o», disse-me o responsável pelo serviço quando entrámos na garrafeira envidraçada do restaurante do novíssimo hotel. Só me faltava esta. Mas não, eram recordações de estadias no Vintage House, onde com o responsável pela Academia do Vinho tinha organizado uma prova de vintages 2000 com vitória do Graham's e destaque para o Quinta do Portal. Agora, depois do reconhecimento dos Symington pela Wine Spectator, deve saber bem essa recordação. Na garrafeira também não faltava o Chryseia por preço razoável. O serviço veio a revelar-se muito simpático, as sugestões da casa muito boas e o vinho uma boa combinação por preço aceitável. Mais um local de referência que se deseja mantenha por muito tempo os padrões que hoje exibe. A propósito, o Pedrinho tinha lá estado a jantar com a mulher na noite de S. Valentim.

Ora Poças!

Quem não esperava pela visita era a D. Altina. Recebeu bem, como sempre, desta vez acompanhando os ilustres visitantes com a boa fluência do seu inglês, a quem explicou que o Senhor Vinho do ano era o Sr. Manuel Poças Pintão, da terceira geração de proprietários. O meu convidado estranhou a idade das pipas e mais ainda a pequena carpintaria que artesanalmente colocava braças em toneis e pipos que necessitavam reparação. Memorável foi a incursão pela sala de provas. O terceiro vintage de 2001 foi dado à comparação com o vintage de 2002 (sim senhor, adivinha-se ano vintage, e de grande categoria!). Ficamos a saber que de 2003 virá um grande vinho tinto com teor de álcool do novo mundo. Por fim, foi oferecida a prova da colheita mais antiga da estante, com exactamente quarenta anos. Nunca me tinha acontecido às dez e meia da manhã já estar para quase vomitar com excesso de álcool.

Saturday, February 14, 2004

Sopa de peixe

Nunca tinha comido tão boa sopa de peixe. Nem supunha que se pudesse fazer dela um prato de S. Valentim. O chefe, de grande mérito e nomeada, já casado algumas vezes mas sempre por pouco tempo, confidenciou que o segredo estava na base, com diversas verduras e os pimentos sem pele. Depois, peixe, marisco e malaguetas normais. Quanto mais quente, melhor. Houve quem achasse o cherne o melhor de tudo. É preciso ter cuidado quando as mulheres utilizam o cherne para referência...

Monday, February 09, 2004

Peralada

O fim de semana esteve recheado com diversas emissões de concertos do Keith Jarrett e do seu trio. Algumas com mais de vinte anos, com olhares e som antigo. Mas sempre a mesma musicalidade. A mesma que me levou a coleccionar todos os seus álbums, a escrever-lhe sem esperar resposta e a fazer por estrada mais de três mil kilómetros para o ir ouvir. Foi neste Verão que passou. Nos tempos recentes terá sido a vez que o trio mais perto passou do firmamento português. Fez esquecer o castelo e conjunto medievais catalão, a Figueres natal de Dali e a gastronomia (é verdade!) que hoje tem reconhecimento mundial. Os entendidos sabem do que falo... Os bilhetes estavam religiosamente guardados à entrada em meu nome num envelope que ainda guardo. O auditório do castelo encheu por completo, fez-se silêncio e a escuridão acompanhou a entrada dos músicos. A organização era esmerada e o público conhecedor. Todos respeitaram a solenidade do acontecimento reconhecendo cumplicemente a superioridade do momento. Quaisquer palavras estragariam a memória da música que se criou naquele palco. Voltaremos sempre.

Friday, February 06, 2004

Peixe Galo

O folhado e o molho de base em que assentava o peixe galo do restaurante do El Corte Inglês estavam irrepreensíveis. E ainda beneficiaram da companhia da última garrafa de reserva branco do Esporão do ano em causa, e daí para a frente, também da melhorada companhia dos próprios 14º do dourado néctar. Para acabar, com os queijos veio um Moscatel Roxo de 91. Tudo, onde se sabe, com vistas para o parque e a Domus Iustitiae. Quem diria...

Thursday, February 05, 2004

S. Salvador

Ouvir no canal Mezzo o Gilberto Gil falar de Neguinho do Samba, Paul Simon e da casa que este comprou para instalar o que viria ser o movimento Olodum traz-me à memória o suave amargo sabor das ruas empedradas do Pelourinho, dos ritmos e das gentes que nelas vivem. Quem ouviu o Swing do Pelô não esquece as histórias africanas dos bandos que encarnam nas fachadas agora restauradas das casas e igrejas dos séculos portugueses. Depois, descendo para a marginal pelo percurso carnavalesco dos Filhos de Gandi, ouve-se a música do Axê (raio de nome que só poderia ter sido dado para popularizar a sua pejorativa difusão) e o vento quente do mar que acompanha a última refeição no afamado Yemanjá antes de regressar ao aeroporto. Mas nem as abundantes porções das melhores mesas da Baía apagam o rufar das percursões das velhas calçadas portuguesas.

Wednesday, February 04, 2004

Las Brasitas

Boa surpresa, esta das Brasitas. O pessoal não é argentino nem de origem nem de estilo (não encontram sempre um problema para cada solução) mas em geral um pouco mais ao norte geograficamente. E mais simpáticos, naturalmente. Ir às docas em dia de sol durante a semana também é bom. A extensa carta de vinhos entretém quem espera pelas entradas de enchidos na brasa a que se seguem as carnes variadas na grelha. Vale a pena. Em grupo podem sortear-se sobremesas e regressar bem disposto ao escritório para responder aos mails que chegam durante a sesta. Quem não quer rejuvenescer de vez em quando?

Tuesday, February 03, 2004

Vela Latina

Já há muito tempo que não almoçava na Vela Latina. As mesmas gentes, o mesmo pessoal, alguns anteriores membros do governo e outros ainda do actual, a carta diferente do que me recordava. O queijo de cabra gratinado com mel (gratinado... como não podia deixar de ser!) vai ser servido na próxima oportunidade lá em casa, juntamente com uma novidade da última estadia na casa de amigos em Washington, um brie com alperce no forno. Novidade foi uma costeleta barrosã à milanesa com massa tagliatelle (?) e molho de tomate que estava óptima. «Para o que lhes havia de dar» dir-se-ia em Montalegre. O cheesecake estava como me recordava e acompanhou bem com um para mim até então desconhecido LBV Offley de 97 aberto na altura.

Monday, February 02, 2004

Casa de Goa

A Casa de Goa continua a oferecer um bom parque de estacionamento e os serviços do sossegado restaurante para quem gosta da cozinha respectiva. Jantar nesse mesmo dia é que pode ser mais dificil para os estômagos menos acostumados. O Balchão (alguém me corrige?) de camarão com duas malaguetas de picante vence o caril. Onde estão os saudosos de Goa à hora de almoço? Crepe de coco e bebinca, como não podia deixar de ser, para sobremesa.

Saturday, January 31, 2004

Jogar à chuva

Se não se joga quando se pode, quando é que se pode jogar? Por sorte não choveu até chegar ao carro, já de regresso. Depois, é claro, ninguém me tirou o frio das costas nem a constipação certa para a semana que aí vem. A bruma das nuvens baixas e as luzes da cidade e do aeroporto acompanharam o fim da volta. Três ou quatro bolas perdidas, umas enfiadas na relva ensopada e os sapatos enlameados são as memórias dos nove buracos. Já foi bem pior, quando tive de regressar da Penha Longa quase despido depois de tirar a roupa e sapatos encharcados dentro do carro. Ou ao contrário, na costa baiana quando antes do almoço já estava na emergência médica do hotel com queimaduras graves do sol por todo o lado. Palavras para quê? «Joguinho que não se faz...»

Saturday, January 24, 2004

Vintage House

Continua na mesma, o Vintage House no Pinhão. O cálice de Porto à chegada faz esquecer a necessidade de ir ao quarto deixar as malas. Alguém as levou, enquanto se encomendava no bar um Vintage de 1997 para abrir depois do jantar. A loja de vinhos continua recheada de boas coisas e até se podem comprar livros com fotografias de Lagoaça enquanto se prova mais um Porto. Com bilhar e futebol na televisão na sala de jogod fazem-se horas para o jantar. Como em todas as Confrarias, o que acontece nos jantares não se escreve. Foi pena não dar tempo para ainda beber a tal garrafa de 97. Menos mal que fez a viagem de regresso conosco para uma segunda oportunidade. Será por pouco tempo.

Monday, January 19, 2004

Pennsylvania Avenue

Descer a Pennsylvania Avenue a pé em direcção à Casa Branca antes de tomar o pequeno almoço é só para quem goste de sofrer. Os sobretudos que por cá usamos não servem para um frio daqueles. Também não temos dias com céu azul e sol brilhante que congelam as pessoas pelo efeito do vento. As valetas dos passeios acumulavam gelo da humidade da noite e as poucas pessoas que se viam usavam gorros e cachecóis por cima dos fatos de escritório. Papéis colados nas portas dos bancos e de algumas outras instituições anunciavam o respeito do feriado pelo dia de Martin Luther King. Celebrava-se o seu nascimento e não a sua morte, disse-me o taxista que me permitiu regressar ao hotel, enquanto ouvia os telefonemas para a rádio a propósito do feriado. «Good morning to you, brother», dizia o ouvinte. Foi melhor do que continuar na loja de fotocópias e material informático à espera de recuperar do frio enquanto o gerente me mostrava a última novidade em máquinas fotográficas digitais. «Welcome back, sir» cumprimentou-me o porteiro do hotel, sem estranhar o frio, e habituado às curiosidades de quem visita a capital da nação. Não cheguei a ver a neve nos jardins da Casa Branca.

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