Friday, February 27, 2004

The Thin Red Line

463 alugueres é o número que consta da minha ficha do video clube. «Passas a vida a ver filmes, e depois dormes pouco...». Que recordações pode haver na memória de quem viu tantas fitas? E somem-se as dos clubes de vídeo das férias, tanto no Norte como no Algarve. Muito melhor e actualizado o primeiro do que o segundo, que não passa de um boteco de Verão. Poucas ficam gravadas mesmo. Talvez pela comparação com o demagógico contemporâneo Soldado Ryan de Spielberg, fica mesmo recordada a obra violenta de Terry Malick com que inaugurei a era do DVD. Tal como o Roger Rabitt do primeiro leitor video depois do casamento. Quanto aos alugueres, resisto a converter os números em preços actuais e dou-me por contente que por essa razão me tenham graciosamente passado a Morvern Callar de uma noite para a próxima Terça-feira.

Wednesday, February 25, 2004

Sra. da Saúde

Já passava da meia noite quando iniciámos o regresso e continuava a chover a mesma chuva que tinha tornado os três dias do desejado acampamento de escuteiros em Évora um exercício de persistente resistência para os mais pequenos. Aos sete anos aguenta-se enquanto se pode. Perante a proximidade dos pais e avós, quebrou. O cansaço e a antevisão de mais uma noite com o saco cama encharcado ajudaram ao desfazer da festa. Entregue ao sono na carrinha de família deverá o jovem lobito ter apreciado como nunca antes a comodidade da viagem, da climatização e da ausência de gotas a cair do tecto. E também terá passado a apreciar o calor da cama de casa e do sossego doméstico. Pelo menos até farejar o cheiro da próxima aventura da Alcateia. Já na Páscoa...?

Monday, February 23, 2004

Crumble

Dá vergonha explicar que a minha primeira prova ocorreu no último vôo transatlântico a bordo da primeira classe da British Airways. E que a receita que trouxe para casa veio da hospedeira encarregada da supervisão da cabine. Era aquela a sobremesa tradicional dos Domingos em casa da mãe dela. O segredo estaria em misturar com os dedos manteiga aos cubos com açúcar amarelo e depois levar a um forno muito quente. Para mim, o segredo dessa primícia foi acompanhar também com um colheita de 1984 da Warre que ia a matar. Neste fim de semana, em casa, nem as frutas ficaram suficientemente cozinhadas nem o Moscatel de 20 anos superou o conjunto do meio do Atlântico. Valeu o resultado do FCP para suprir a desalentadora experimentação. O conjunto não era, afinal, de primeira classe...

Wednesday, February 18, 2004

Porto Novo

«Eu a si, conheço-o», disse-me o responsável pelo serviço quando entrámos na garrafeira envidraçada do restaurante do novíssimo hotel. Só me faltava esta. Mas não, eram recordações de estadias no Vintage House, onde com o responsável pela Academia do Vinho tinha organizado uma prova de vintages 2000 com vitória do Graham's e destaque para o Quinta do Portal. Agora, depois do reconhecimento dos Symington pela Wine Spectator, deve saber bem essa recordação. Na garrafeira também não faltava o Chryseia por preço razoável. O serviço veio a revelar-se muito simpático, as sugestões da casa muito boas e o vinho uma boa combinação por preço aceitável. Mais um local de referência que se deseja mantenha por muito tempo os padrões que hoje exibe. A propósito, o Pedrinho tinha lá estado a jantar com a mulher na noite de S. Valentim.

Ora Poças!

Quem não esperava pela visita era a D. Altina. Recebeu bem, como sempre, desta vez acompanhando os ilustres visitantes com a boa fluência do seu inglês, a quem explicou que o Senhor Vinho do ano era o Sr. Manuel Poças Pintão, da terceira geração de proprietários. O meu convidado estranhou a idade das pipas e mais ainda a pequena carpintaria que artesanalmente colocava braças em toneis e pipos que necessitavam reparação. Memorável foi a incursão pela sala de provas. O terceiro vintage de 2001 foi dado à comparação com o vintage de 2002 (sim senhor, adivinha-se ano vintage, e de grande categoria!). Ficamos a saber que de 2003 virá um grande vinho tinto com teor de álcool do novo mundo. Por fim, foi oferecida a prova da colheita mais antiga da estante, com exactamente quarenta anos. Nunca me tinha acontecido às dez e meia da manhã já estar para quase vomitar com excesso de álcool.

Saturday, February 14, 2004

Sopa de peixe

Nunca tinha comido tão boa sopa de peixe. Nem supunha que se pudesse fazer dela um prato de S. Valentim. O chefe, de grande mérito e nomeada, já casado algumas vezes mas sempre por pouco tempo, confidenciou que o segredo estava na base, com diversas verduras e os pimentos sem pele. Depois, peixe, marisco e malaguetas normais. Quanto mais quente, melhor. Houve quem achasse o cherne o melhor de tudo. É preciso ter cuidado quando as mulheres utilizam o cherne para referência...

Monday, February 09, 2004

Peralada

O fim de semana esteve recheado com diversas emissões de concertos do Keith Jarrett e do seu trio. Algumas com mais de vinte anos, com olhares e som antigo. Mas sempre a mesma musicalidade. A mesma que me levou a coleccionar todos os seus álbums, a escrever-lhe sem esperar resposta e a fazer por estrada mais de três mil kilómetros para o ir ouvir. Foi neste Verão que passou. Nos tempos recentes terá sido a vez que o trio mais perto passou do firmamento português. Fez esquecer o castelo e conjunto medievais catalão, a Figueres natal de Dali e a gastronomia (é verdade!) que hoje tem reconhecimento mundial. Os entendidos sabem do que falo... Os bilhetes estavam religiosamente guardados à entrada em meu nome num envelope que ainda guardo. O auditório do castelo encheu por completo, fez-se silêncio e a escuridão acompanhou a entrada dos músicos. A organização era esmerada e o público conhecedor. Todos respeitaram a solenidade do acontecimento reconhecendo cumplicemente a superioridade do momento. Quaisquer palavras estragariam a memória da música que se criou naquele palco. Voltaremos sempre.

Friday, February 06, 2004

Peixe Galo

O folhado e o molho de base em que assentava o peixe galo do restaurante do El Corte Inglês estavam irrepreensíveis. E ainda beneficiaram da companhia da última garrafa de reserva branco do Esporão do ano em causa, e daí para a frente, também da melhorada companhia dos próprios 14º do dourado néctar. Para acabar, com os queijos veio um Moscatel Roxo de 91. Tudo, onde se sabe, com vistas para o parque e a Domus Iustitiae. Quem diria...

Thursday, February 05, 2004

S. Salvador

Ouvir no canal Mezzo o Gilberto Gil falar de Neguinho do Samba, Paul Simon e da casa que este comprou para instalar o que viria ser o movimento Olodum traz-me à memória o suave amargo sabor das ruas empedradas do Pelourinho, dos ritmos e das gentes que nelas vivem. Quem ouviu o Swing do Pelô não esquece as histórias africanas dos bandos que encarnam nas fachadas agora restauradas das casas e igrejas dos séculos portugueses. Depois, descendo para a marginal pelo percurso carnavalesco dos Filhos de Gandi, ouve-se a música do Axê (raio de nome que só poderia ter sido dado para popularizar a sua pejorativa difusão) e o vento quente do mar que acompanha a última refeição no afamado Yemanjá antes de regressar ao aeroporto. Mas nem as abundantes porções das melhores mesas da Baía apagam o rufar das percursões das velhas calçadas portuguesas.

Wednesday, February 04, 2004

Las Brasitas

Boa surpresa, esta das Brasitas. O pessoal não é argentino nem de origem nem de estilo (não encontram sempre um problema para cada solução) mas em geral um pouco mais ao norte geograficamente. E mais simpáticos, naturalmente. Ir às docas em dia de sol durante a semana também é bom. A extensa carta de vinhos entretém quem espera pelas entradas de enchidos na brasa a que se seguem as carnes variadas na grelha. Vale a pena. Em grupo podem sortear-se sobremesas e regressar bem disposto ao escritório para responder aos mails que chegam durante a sesta. Quem não quer rejuvenescer de vez em quando?

Tuesday, February 03, 2004

Vela Latina

Já há muito tempo que não almoçava na Vela Latina. As mesmas gentes, o mesmo pessoal, alguns anteriores membros do governo e outros ainda do actual, a carta diferente do que me recordava. O queijo de cabra gratinado com mel (gratinado... como não podia deixar de ser!) vai ser servido na próxima oportunidade lá em casa, juntamente com uma novidade da última estadia na casa de amigos em Washington, um brie com alperce no forno. Novidade foi uma costeleta barrosã à milanesa com massa tagliatelle (?) e molho de tomate que estava óptima. «Para o que lhes havia de dar» dir-se-ia em Montalegre. O cheesecake estava como me recordava e acompanhou bem com um para mim até então desconhecido LBV Offley de 97 aberto na altura.

Monday, February 02, 2004

Casa de Goa

A Casa de Goa continua a oferecer um bom parque de estacionamento e os serviços do sossegado restaurante para quem gosta da cozinha respectiva. Jantar nesse mesmo dia é que pode ser mais dificil para os estômagos menos acostumados. O Balchão (alguém me corrige?) de camarão com duas malaguetas de picante vence o caril. Onde estão os saudosos de Goa à hora de almoço? Crepe de coco e bebinca, como não podia deixar de ser, para sobremesa.