Monday, May 31, 2004
A barra do Kwanza
70 km a sul da capital desagua por entre mangais o rio que atravessa o país. O passeio até lá atravessa zonas muito povoadas e pobres até chegar à secura exemplar da plataforma africana, com o Atlântico bravio a enrolar-se em praias desertas a perder de vista. No cimo de um morro, e a convite de um conhecido empreendedor, juntava-se um grupo acidental para saborear uns camarões grelhados com Möet Chandon e umas tiras de carne grelhada jugosa acompanhadas do bom Tapada de Coelheiros tinto. Em redor, espraiava-se a mancha verde do delta do rio naquele que será o futuro lugal de um hotel ao estilo dos Private Game Reserve Sul Africanos. Enquanto o «Ambassatore» explicava a relação entre o país dele e este, remontando ao século XVII (!), ouvia eu os relatos do jovem casal que partihava a boa amizade comum com o Pe. Oliveira, que os tinha casado no Verão passado e que conheciam de outras circunstâncias - ou guerras, como costumaria dizer-se. Depois de atravessar os imbondeiros milenares em estradas rasgadas na passada semana, seguindo as impressões de quem lá estivera há 30 anos, confirmo que por aqui, e no que a este rio respeita, a natureza manteve-o alheio à intervenção do bicho homem.
Friday, May 28, 2004
Os Argonautas
Depois de Viena, Sevilha e Gelsenkirchen (que raio de nome!) espalhamos jogadores de futebol e algum que outro treinador pelo mundo. Desde que os autocarros de Londres tiveram o Figo a todo o tamanho por conta de qualquer patrocínio comercial, a representação externa portuguesa deixou de se fazer pelo Eusébio, o fado e etc. Agora resta ver se por cá somos capazes de a partir de Junho enviar descobridores do novo mundo do desporto televisionado à custa de quem se anima com este passatempo. «Navegar é preciso...», como canta o Caetano. Por mim, recordo ter visto o Manchester dentro de um hotel nas margens do mar da Irlanda, o Lyon na costa ocidental de África e o Corunha fechado no quarto do Four Seasons de Georgetown. Cosmopolita, não é?
Thursday, May 27, 2004
O Princípe Cor de Rosa
E viva o Porto! Dezassete anos depois, desta vez não fui à baixa, mas recordo bem que nesse ano, em cima da estátua da Praça dos Restauradores estava um homenzinho bem passado que repetia o gesto do calcanhar do Madjer, gritando «Toma!...». Este foi agora um jogo ao contrário do que nos costuma acontecer, do qual nem sequer teríamos a vitória moral. Apenas o prazer de ver a realeza mundana irritar-se e abandonar o assento da tribuna. Tão divertido como subir às estátuas.
Tuesday, May 25, 2004
Delirium Tremens
Os elefantes cor de rosa do rótulo e dos copos a condizer identificam a melhor cerveja do mundo, sobretudo depois de se beber até ao fim. Deixa mais saudade do que a Duvel, outra favorita, igualmente memorável. Depois de um aperitivo com os ditos elefantes - no rótulo há também umas pombas douradas a voar em desiquilíbrio e uns crocodilos de óculos escuros - o Reserva Douro da Sogrape não se notabilizou. Tenho que voltar ao Pallazzo em Bruges. A Rainha de Inglaterra é fã dos Abba?
Monday, May 24, 2004
O Eduardo
«Vai ser difícil..., vai ser um jogo como o do ano passado...». No Ramiro, a marisqueira da Almirante Reis que fez furor nas reportagens das televisões sobre a Expo 98, quem nos escolhe o marisco é um portista ferrenho, daqueles que pagou o preço que a Cosmos pedia pelo programa completo para ir à final da Alemanha logo no primeiro dia. O ano passado também foi a Sevilha. Normalmente acerta nos prognósticos dos jogos enquanto escolhe os lagostins. Desta vez torceu bastante o nariz. A coisa está preta, parece-me.
Friday, May 21, 2004
O Farol da Torre
É uma tasca! Com melhor localização seria difícil. Mesmo à vista da Torre de Belém, na Rua da Praia do Bom Sucesso, sem número, apenas exibe como sinal identificativo o ano de 1871 numa das portadas laterais. Embora com instalações mais amplas, faz lembrar o Senhor Pedro, de Alfama, junto às escadinhas de S. Miguel. Há bifes, lombinhos e espetadas e o mesmo tipo de frequência. Carapaus e sardinhas, com toda a certeza também. Quem organiza um encontro de confraria sabe ao que vai e mesmo que seja um grupo de amigos habitualmente enófilos, por lá vingaram as imperiais.
Thursday, May 20, 2004
O Instituto Alemão
Nos jardins do Goethe-Institut fala-se português com sotaque das terras de Vera Cruz. E vai até torcer-se pela nossa própria selecção na ausência da canarinha. Se dúvidas houvesse, os emblemas do Flamengo por detrás do balcão esclarecem as preferências. Anuncia-se já um horário alargado até mais tarde e para todos os dias da semana, incluindo Sábados e Domingos, com televisões para acompanhar o campeonato. Entretanto, para quem quiser apenas intervalar dos tratamentos hospitalares ou das questões da justiça mais mediática, recomenda-se o recato das árvores antigas e a simpatia de por quem lá serve. Sai um jogo de futebol internacional com uma Erdinger?
Monday, May 17, 2004
O novo mundo
Os bons vinhos portugueses parecem afastar-se dos parâmetros do «vinho à antiga». Ou serão apenas aqueles que mais gosto que deixaram de querer ser leves e secos (à imagem do Bordeaux?). Vinhos como o Quanta Terra, que até ganham aos clássicos espanhóis, como o Alión do jantar deste fim de semana passado, são colocados no mercado por produtores desconhecidos e esgotam nas prateleiras de quem o vende. Ou o Quinta da Touriga-Chã, de famílias de notáveis do mundo dos vinhos, que rivaliza em tudo com os bons vinhos da Califórnia. Vão sobrar apenas as castas autóctones, mas mesmo essas já têm o sabor das uvas dos novos continentes.
Wednesday, May 12, 2004
Epicurista
Passei afinal pelo Gourmet do El Corte Inglês para comprar umas garrafas do vinho com que ontem tinha também lá acompanhado a vitela recheada com alheira. O tal regional. Também para comprar um outro, iqualmente referenciado, e igualmente candidato ao concurso não confesso de nomes inéditos. Trata-se do Quanta Terra, produzido entre Alijó e Sabrosa, destinado às refeições em família do próximo fim de semana. Regressava eu de uma reunião de trabalho tardia, depois do golfe matinal. Será que por cá também expulsaríamos o correspondente do New York Times se fizesse uma reportagem sobre os hábitos de bebericar do nosso Presidente? Do Brasil chegarão a partir de agora melhores notícias, porque já não estará lá quem dava as más...
Tuesday, May 11, 2004
Vinho Regional
O que levará os legisladores a sistematizar o uso de denominações para apelidar um bom vinho? Vinho Regional Beiras, era o que constava do rótulo do que bebi ao almoço. Nem a mínima ideia de onde era. Indicava apenas as caves que o produziam, em Sangalhos. Vence a nomenclatura, o controlo das palavras, ainda por cima por força regulamentar. Era um óptimo vinho, aliás. Levava Baga para além de Cabernet e Merlot. Depois fiquei a saber que a Revista de Vinhos lhe dava 18. Vale mais esta informação do que o título a que a lei obriga - e que nada informa. A ironia é que outro rótulo para além da referência legal obrigatória acrescentava que se tratava de um «Single Estate». É bem. Em vez de saber de onde é, fico a saber isso, em inglês. Continuamos ao contrário. E continua a produzir-se «Port» na Austrália e na California, onde não tem aplicação a tal nossa lei...
Thursday, May 06, 2004
O fuso horário
A mudanca de hora faz-se no chuveiro da sala de espera de Heathrow depois da travessia do Atlântico. As refeições tambêm já não se tomam a bordo. Já antes, a mesma boa companhia aérea tinha oferecido aos clientes com melhor tratamento uma sala de jantar como deve ser. A de Dulles, o aeroporto internacional de Washington, permite saborear os vinhos do Francis Ford Copola e o pôr do sol ao mesmo tempo. Para concluir que a memória da saída é sempre a daquela mesma sala e do relações públicas que vem chamar os passageiros quando a fila do embarque se encurta. E também que o Cabernet Sauvignon da Sterling é melhor que o Merlot do cineasta.
Tuesday, May 04, 2004
The rain in Spain
...falls mostly in the play. E para comemorar, um Chardonnay israelita, produzido nos Montes Golan, na Galileia. Era Kosher - tal como os anfitriões - e certificado como tal por um Rabi no rótulo. Bem melhor que o francês do Pays d'Oc em alternativa.
A National Gallery of Art
A chuva tropical do final de dia de Verão não chegou a estragar o dia passado a jogar golfe em Fairfax, na Virginia. Com toda a chuva a seguir, aproveitei a entrada livre do maior dos Smithsonian para compensar um intervalo da agenda. Lá reencontrei o flamengo Hans Memling, ao lado de vários Goya, de uma outra senhora do Leonardo da Vinci, do Santo Ildefonso do El Greco e da Lucrécia de Rembrandt. Depois, as salas com os Monet, Gauguin, Van Gogh, Renoir, Manet e Cézanne. O cálice de S. João Evangelista do Memling foi o que mais me impressionou, recordando-me os muitos momentos de repouso a olhar o tríptico e algumas imagens que o fazem famoso em Bruges no museu com o seu próprio nome. Bons tempos, já lá vão quinze anos. Também me impressionou o cálice de Zinfandel da hora do jantar. A verdadeira uva da California. A acompanhar um Porterhouse steak de 20 onças - um kilo de bife, mais coisa, menos coisa...
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