O sotaque do encarregado do restaurante do hotel não enganava. Tinha sido, afinal, meu colega de liceu. Agora, depois de viagens por vários restaurantes e hotéis do mundo, ficava-se por aqui e mostrava fotografias dele, da mulher e até de amigas locais para ver se eu me lembrava de quem ele era. Melhor história só a do passaporte perdido por ter caído para dentro da mala e esta se ter fechado no check-in. Há gente para tudo em todo o lado.
Saturday, July 24, 2004
Cabeças pequenas
A rapariga da loja do hotel só aceita notas de dólar com as cabeças grandes. As outras não. Nem o correspondente em Washington que coincidia no almoço em casa de bons amigos sabia bem porquê. Estava a caminho de férias perto de Lisboa, mas ainda ficará por cá para dar mais uns cursos de jornalismo durante a próxima semana no interior do país. Apesar do almoço com muitas especialidades diferentes e óptimos vinhos sul-africanos (na próxima viagem vou tentar regressar por Capetown e visitar as regiões viticolas) continuo a tentar o inverso do que predestinava o velho Deodato para quem as viagens serviam apenas para regressar com menos dinheiro e mais uns quilos.
Thursday, July 22, 2004
Back to business
Outra vez por cá. Agora para saborear umas alfaces cultivadas na zona, um mero frito com banana também frita e abacates batidos com sabe-se lá o quê. E lagostas, como de costume. É Inverno e está fresco à noite, agradável durante o dia para quem cumpre o protocolo ocidental do vestuário. Reuniões com salas cheias, relatórios e mails, em suma, compromissos para todo o Verão que começa com o vôo de regresso. Os americanos ofereceram pizzas e coca-colas a todos os nossos trabalhadores. Não dá para acreditar.
Monday, July 19, 2004
Sotogrande
O escaldão do sol do meio dia não perdoa. Mas não havia escolha. Era o campo ou a piscina. Sim, porque o Spa... Já bastaria depois a noite, na marina em frente aos barcos, com os veraneantes dos nossos dias a passear, para encerrar o fim de semana. Em suma, foi um shot de férias: companhia, kilómetros de distância, boa gastronomia, umas tacadas e tempo bom ou mau ou diferente.
Saturday, July 17, 2004
Hacienda Benazuza
Às portas de Sevilha, em Sanlúcar la Mayor, come-se o melhor jantar de toda a vida. O La Alquería integra-se no hotel que em séculos idos foi convento e agora alberga em estilo andaluz com jardins mouriscos os hóspedes que o podem pagar. Trata-se de uma experiência derivada do sucesso do El Bulli a norte de Gerona e serviu para colmatar a falha de há precisamente um ano, quando a minha reserva no restaurante do Mestre Adriá me foi recusada durante mais de um mês sem descanso para o período da minha estadia em Peralada. Pois desta vez, para desforra e sem hesitações, escolhemos o menú de degustación. Ainda hoje não sei ao certo o preço por pessoa. Quanto à ementa, parei de contar e de memorizar quando veio o melão grelhado, a que se seguiram a santola com horchata de trufas, ou as migas com trufas de verão, ou o atúm gratinado com maionaise do próprio atúm, já não recordo. O ritmo do serviço fez-me perder a memória dos pratos principais e da sequência de entradas, e ainda bem que de manhã pedi que me imprimissem a lista do menú, onde finalmente contei as vinte e quatro linhas da ementa. Recordo sim a gelatina de água de tomate com melancia e espuma de salsa (será possível?) e o atrevimento do chefe que decidiu por sua conta saltar o pré-postre e mandar-nos para a zona da tenda árabe da piscina, onde já não cheguei depois de passar no jardim com camas espalhadas a coberto das copas das árvores baixas. No dia seguinte, comer os montaditos da praxe no Pátio de San Elói foi como continuar a jornada pela Andaluzia trocando um confortável Bentley por um velho Land Rover daqueles que aquecem e gripam os motores. Por falar em Bentley...
Wednesday, July 14, 2004
Mais uma vez o Novo Mundo
O Tapada do Barão 2001, do Monte dos Perdigões é um ganda vinho tinto! Nem precisava do acompanhamento da paletilha de cabrito de leite para se valorizar. Tudo por recomendação do sommelier do sítio do costume. Não há já paciência para os vinhos minerais, ácidos, pretensamente com «terroir» e leves. Quem quiser, que beba água. Também há outras preferências plenamente justificáveis e defensáveis, como por exemplo as dos entusiastas dos encierros de San Fermin em Pamplona que durante dois minutos e meio tentam salvar a pele correndo no meio dos touros. Se o Zé, empregado do Padre Augusto em Padornelos visse na televisão as imagens do fim de semana, diria com certeza: «Ele, há-os!»
Monday, July 12, 2004
Velhos Amigos
Eram 146 no total. No início parecia que se tratava de uma outra festa, ou de outro curso, ou de um engano da convocatória. Não. A multidão de desconhecidos na varanda do restaurante em Monsanto era a mesma que muitos anos antes estava sentada nas bancadas ou no escadaria dos auditórios da Faculdade. A Clássica, como na altura todos lhe chamávamos. Ao meu lado, uns magistrados, um apresentador de televisão, outros menos familiares, uns mais velhos ou mais gordos, ou casados ou divorciados ou com crianças. O ciclo da vida. Mais violento foi já nesta Segunda-feira ouvir o Zé dizer que vai fechar. Com a mesma calma com que terá amealhado os ganhos da venda de todo o prédio em que se instalou durante 40 anos, está agora a vender a preço mais moderado algumas garrafas de bom vinho. Outras, as melhores, assegura que não se vão estragar. Até ao próximo dia 31, lá estará na mesma, com a família, a servir os melhores grelhados do Concelho. Depois, e em proveito da voragem imobiliária, será preciso ir procurá-lo na Linha, com vista para o mar, a gozar o resto da sua própria boa vida.
Friday, July 09, 2004
Casa Gallega
A boa cozinha deste restaurante em Paço de Arcos está a par da garrafeira com as últimas e mais notáveis novidades. Desta feita, e a propósito de um reencontro com o Quinta da Touriga-Chã (oh! «suavis anima»...) tocou a vez a umas perdizes meio escabechadas. Aqui fica, solene, a homenagem aos autores - das perdizes e do vinho.
Thursday, July 08, 2004
Crazy
O primo Júlio é uma referência da colheita de uma geração. Produz o último dos vinhos do lavrador da família, «sumos de uva» fortes e desregrados como os transmontanos da terra quente. Trata das terras de alguns amigos e parentes e foge da mulher como o diabo da cruz. Bem diferente é o Iglésias que ontem se confessou no Estoril perante uma assistência comparticipante e conivente. «Já não canto por dinheiro: dinheiro tenho a mais... e tudo o que quero comprar é barato!». O vinho do primo Júlio também não está à venda. Mas bom e barato é o novo vinho da Adega de Valpaços, que à semelhança do ano passado lançou um conjunto de garrafas pequenas de vinhos diferentes. De resto, e ao invés do que se passa nos casinos de todo o mundo, as coisas boas da boa vida encontram-se onde menos se espera.
Sunday, July 04, 2004
Venham os pardais
O Zagorakis adaptou-se como quis à nova situação. Substituiu o gato de aluguer que tinha sido enviado por senhora amiga e que não sobreviveu à pressão das amizades infantis. Deste, nem se lhe guardou o nome. A angústia foi superior. Não se libertou o suficiente do desafio e em pouco estava de novo confinado às sortes que conhecia. Já o novo campeão, não. Baptizado por respeito à sua condição estranha, reagiu com a confiança e o à-vontade de quem ganha novos títulos. Instalou-se e fez da casa nova o seu próprio campo. Só descansou depois da barriga cheia.
Saturday, July 03, 2004
A Senhora da Oliveira
O Francisco, quarto filho de bons amigos de sempre, foi baptizado no centro histórico de Guimarães. A festa seguiu nas cercanias de Braga, em Esporões, na quinta da família, com serviço à antiga, entradas para todos os gostos e o vinho verde tinto da casa engarrafado para a ocasião, para animar o ambiente. Outro vinho da família, também verde mas branco, o Quinta das Ermízias, floral, sem acidez, acompanhou bem e com surpresa o bacalhau minhoto que seguiu. No fim, os pudins e os doces de ovos atrasaram o regresso a casa.
Friday, July 02, 2004
O Parque do Palace
Não tem comparação com nada jogar no golfe de Vidago. Esquilos, árvores centenárias e este aroma das tílias ninguém mais tem. Depois, a sombra que ladeia o regato que atravessa entre muros o percurso baixo, confirma que este é um destino impar da boa vida. Desde a Páscoa acresce a melhor imperial da Europa, no recém inaugurado clubhouse que faz inveja ao acolhimento que já experimentei no Dromoland Castle na região do Shanon. Melhor, só terminando o dia com um jantar no Hotel Rural de Samaiões. Problemas como ter que terminar sozinho o costeletão para duas pessoas acompanhando com o vinho da casa não são nada comparado com o desafio dos buracos 5 e 6 do percurso de Vidago, nos quais o handicap não tem apenas o significado de poder bater mais pancadas que o par mas seguramente o de poder perder as bolas que se queiram entre as giestas e os pinheiros altos. O Sebastião, que se reconhece facilmente ao longe pela silhueta abdominal, insiste que é necessário ajudar na apanha dos pinhões. Por isso não há mal em bater nos troncos com força. Os esquilos aqui jogam sem handicap.
Thursday, July 01, 2004
Do fundo do coração
...obrigado Felipão! «Será demais pedir a taça?» De que é que a gente se queixa? Agora que cê não nos deixa? (Era esta a vossa deixa) Vou apagar o post de 12 de Junho. Gregos outra vez...?
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